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Jean-François Sirinelli, diretor do departamento de História
do Instituto de Estudos Políticos de Paris, fez uma interessante abordagem a
respeito da situação política atual da França e da Europa Ocidental, em entrevista
a um canal fechado de TV.
Em seu ponto de vista, o bem estar de um cidadão está
amparado naquilo que chamou de os 4P – Prosperidade, Paz, Pleno emprego e
Perspectivas.
Não pretendo discorrer sobre a Europa Ocidental e o iminente
colapso capitalista que se avizinha; para eles, esta década começa a ser
marcada pelo declínio moral das instituições políticas ancoradas no grande
capital, no fracasso financeiro e nas restrições aos programas sociais.
Vou trazer os 4P para cá.
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P1. O que temos visto no Brasil é um sentimento cada vez
mais concreto de Prosperidade. Sempre que lemos ou ouvimos falar da nova
classe-média, estamos nos referindo a um grupo – imenso – de famílias que
ascenderam socialmente, que foram inseridas no mercado de trabalho e consumo,
que compram casa, carro, viajam de avião! Quem já alcançou um objetivo à custa
do próprio esforço sabe o que é sentir-se próspero.
P2. Por tradição, não somos um país guerreiro e nos
orgulhamos de viver em Paz com nossos vizinhos. Mas não é apenas esta Paz que
interessa aos brasileiros, senão a Paz mundial. A repercussão, ainda no governo
Lula, da tentativa de intermediar ao acordo entre Irã e EUA, na questão do
armamento nuclear, permitiu à sociedade brasileira experimentar o gosto da
inclusão do Brasil no cenário político mundial; o fato de sentar à mesa ao lado
de grandes potências com um claro discurso pacifista eleva a autoestima da
população.
P3. Durante décadas, desde o regime militar, fomos levados a
crer que o bolo deve crescer antes de ser repartido. O que se viu foi o bolo
crescendo e apenas sobravam migalhas. Até o governo do PT assumir o comando
político da Nação e providenciar, com todas as ferramentas disponíveis, com a
urgência necessária e com o máximo empenho, a geração de emprego e renda. O Pleno
emprego, objetivo principal de todas as medidas econômicas deste governo, de
Lula e Dilma, é a fórmula da repartição da renda, do bolo, da inclusão social.
As desonerações fiscais, os programas sociais, o financiamento público a
pequenas e médias empresas, a baixa sucessiva e constante das taxas de juros,
entre outras medidas, colocaram a economia a serviço da população, sobretudo a
mais pobre.
P4. Talvez o que mais incomode um chefe de família seja a
falta de segurança para criar seus filhos. Sem Perspectivas, não existe luta.
Com o horizonte cada vez mais distante não há razão para ter coragem.
Este é o ponto mais importante do cenário atual do Brasil:
as pessoas acreditam que amanhã será melhor que hoje e, por isso, encampam as
batalhas cotidianas com mais força, conseguindo resultados antes impossíveis.
A difícil compreensão
Entretanto, a parcela descontente – e barulhenta – da sociedade,
a oposição partidária e a mídia fundamentalista, parecem desconhecer a
realidade do Brasil.
A insistência em bater nos mesmos temas na tentativa de
associar o PT ao que há de pior no país, à corrupção, não leva em consideração
os 4Ps. Provavelmente, para essa gente que tem o burro amarrado na sombra, que
sempre viveu de benefícios do Estado, não percebeu o quanto é inócuo o discurso
anti-PT. Ainda bem!
Suas bandeiras, usadas nas eleições do Século XX, de
privatização, de redução no tamanho do Estado, de livre mercado, morreram imediatamente
após a posse do primeiro mandato de Lula. O discurso neoliberal murchou.
Pudera, com a crise internacional de 2009, até Wall Street teve que rever
certos conceitos.
A grande imprensa, principalmente, se vê diante de um quadro
incompreensível da vida política brasileira: noticia com grande alarde a “incapacidade”
administrativa do PT, ameaça com apagões de energia, com estouro do prazo para
conclusão dos estádios da Copa, com a perda de controle sobre a inflação e ...
e nada! A popularidade de Dilma Rousseff bate recordes a cada pesquisa.
A perda de credibilidade da mídia fundamentalista vai dar a
reeleição para Dilma ainda no primeiro turno! Depois, recomeça o chororô.
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Para o historiador francês, a Europa está numa encruzilhada.
Jean-François Sirinelli acredita eu ainda há tempo de reagir mas acha que o
esforço deverá ser monumental.
Ele citou o fato que, pela primeira vez depois da II Guerra
Mundial, um contingente imenso de pessoas na casa dos 30 anos de idade nunca
terem tido um emprego formal e legal na vida.
A situação na Europa é grave e a solução não pode passar
pelo corte de direitos sociais adquiridos, no caso da França, por um país que
mudou a forma de pensar do mundo com sua revolução.
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