***
Às vésperas da Copa do Mundo da Alemanha e da África do Sul
ocorreram manifestações de descontentes como as que vemos tomando as ruas das
principais cidades do país. São movimentos legítimos, organizados ou não, que
se aproveitam da chegada da mídia internacional para dizer o que pensam.
O que está ocorrendo no Brasil, desde a semana passada, pode
esmaecer. Ou não. O tempo dirá – e a reação da sociedade pode depender do
resultado dos jogos do Brasil ... parece estranho mas, caso levantemos a taça
de campeões o ânimo pode acalmar e tudo volta ao normal. E se perder? Isso
deveria influir?
A lição importante que se retira deste episódio, que não
sabemos onde vai dar, é a vontade popular sendo expressa nas ruas,
pacificamente ou não, pelas mãos e vozes de garotos e garotas de todas as classes
sociais, por todos os cantos. Atitude louvável, própria da juventude que quer
mudar seu país. Já fiz muito disso em tempos passados, agora os assisto apenas.
E torço.
Torço muito para que saibam o que estão fazendo, para que
não se deixem manipular por espertinhos interessados em tirar proveito
político; que sigam adiante na busca e conquista de seus ideais, mas que o
façam com sabedoria. Minha geração errou. Morremos e fomos torturados, demos um
recado e fomos abafados pela força. Envelhecemos mas não perdemos a vontade de ver mudar a ordem das coisas. Por isso, torço.
Por outro lado, desconfio das razões que os levam às ruas.
Claramente, os 20 centavos foram o pretexto de mobilização, deu resultado, e
logo vieram mais cobranças: saúde, educação e segurança, os mais exigidos.
Volto a repetir, são direitos super hiper legítimos para
qualquer sociedade, sobretudo para a nossa tão desigual. Esta luta, se realmente
popular, pode nos levar a um estágio de desenvolvimento social que minha
geração tanto lutou. Mas deve partir do povo, não se deixar manipular é a
premissa básica na busca de resultados efetivos.
Não me parece que é o que está acontecendo.
A sensação de que partidos de oposição estejam “usufruindo”
das passeatas e manifestações me deixa um gosto amargo na boca. Na carona, leio
discursos de Senadores da República da oposição em apoio aos manifestantes como
se estas bandeiras fossem deles; a mídia fundamentalista, descaradamente, os
repercute como se fosse verdade. Beira o ridículo ver o PSDB, DEM e PPS alinhados com o MPL – Movimento Passe
Livre.
A propósito do MPL, e esta é a razão de meu manifesto: é
legítimo pedir ônibus “de grátis” no modelo privatizado de transporte coletivo
que temos em vigor hoje no Brasil? Ou querem mudar o modelo, estatizar as
companhias e fazer o Município pagar a conta? Aliás, todos os municípios do
Brasil estariam dispostos a estatizar suas frotas?
Ou teríamos um modelo mix: meia calabresa e meia mussarela?
Existem propostas, ou só querem que liberem as catracas em
São Paulo e grandes cidades? E as pequenas, e a zona rural?
Aliás, caso as manifestações se proliferem e cresçam ao
ponto de ruptura institucional, me pergunto quem assumirá o país, qual o
partido ou liderança política? Até onde sei todos os que aparecem tecendo
opiniões são ou já foram governo... existem partidos e nomes novos? Quem?
Meu manifesto não é pelo busú
0800, nem pela saúde, educação ou segurança. É pela decência do cidadão, de
todos, ricos e pobres, pela educação doméstica das crianças dentro de suas
casas.
Ou alguém vai me convencer que teremos melhores Hospitais e
Escolas enquanto o sujeito urina na rua? Ou estaciona na vaga de idoso em
supermercados? Ou compra ingresso do cambista na casa de shows? Ou faz gato de internet com o vizinho? Ou
suborna o policial que o flagrou em alta velocidade? Ou aquele que dirige
embriagado?
Posso passar horas listando os “pequenos crimes” que
cometemos diariamente sem pensar que estamos prejudicando alguém... sim, nós os
cometemos e saímos para pedir o fim da corrupção? É retórico ser cara de pau...
Venho defendendo os sucessivos governos do Partido dos Trabalhadores
na certeza de que estamos no rumo certo, na medida do possível. Recebo inúmeras
críticas por isso, mas não me importo. Tenha uma certeza guardada comigo que
trago há anos, que o Brasil só será decente quando não houver mais gente com
fome. E isso, pelo menos não se pode negar, este governo está alcançando. Mais lentamente
do que poderia, é verdade, mas nunca se fez tanto.
A sabedoria me ensina a temer as consequências de movimentos
descoordenados e sem propostas concretas. Na democracia, é imprescindível. Ou
retrocedemos.
***
Um comentário:
http://blogdeitaara.blogspot.com.br/2013/06/voce-perdeu-dilma-parafraseando-o-voce.html
Postar um comentário