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Quem lê a cobertura que a mídia corporativa faz do Golpe de
Estado de 1964 e não viveu aquela época, ou não estudou a história do Brasil,
verá uma distorção dos fatos. Até mesmo certos blogueiros ditos progressistas
parecem ter esquecido o que se passou na véspera do golpe. Não se conta a
verdadeira sequência dos fatos.
O golpe começou na renúncia de Jânio da Silva Quadros, um
político carismático eleito ao encampar a bandeira da moralidade – a vassourinha,
para limpar a política, era seu símbolo de campanha. Seu vice, eleito em chapa
independente, foi João Goulart, ou Jango.
Em Agosto de 1961, Jânio divulga a carta dizendo-se vencido
após sete meses de governo. Amparou sua renúncia na impossibilidade de seguir
na presidência sem o apoio para varrer a corrupção, a mentira e a covardia. Anos
mais tarde, assumiu ser um blefe e, segundo historiadores, foi uma tentativa de
autogolpe.
Seu vice, João Goulart, havia sido enviado a China em missão
oficial e sua volta ao Brasil teve que ser negociada com a UDN de Carlos
Lacerda, ex-aliado de Jânio e líder da direita.
Lacerda e o ex-presidente Juscelino Kubitschek eram os mais
cotados à eventual sucessão de Jango, caso houvesse eleições presidenciais que
pudessem acalmar os ânimos pós-renúncia.
Três anos e meio depois, os militares tomam o governo pela
via da força.

Este período histórico talvez nunca seja esclarecido
devidamente.
Com a Guerra Fria no auge das (más) relações internacionais,
sendo o Brasil um país estratégico para as pretensões do capitalismo; com a
inteligência norteamericana funcionando a todo vapor, a CIA infiltrada em todos
os governos latinoamericanos temendo a influência de Cuba e URSS, pode-se
perfeitamente supor que forças civis locais deram respaldo e inflamaram
lideranças militares para a tomada de poder. Com apoio financeiro e logístico
da CIA, é claro! E com apoio da imprensa brasileira e ocidental, sem a menor
dúvida!
Recentemente, documentos de 1961/2 revelaram atuação de John
Fitzgerald Kennedy, presidente dos EUA, na política brasileira no sentido de
interferir no curso do fortalecimento do capitalismo tupiniquim. Kennedy foi
assassinado em Novembro de 1963, seis meses antes do golpe no Brasil!

O golpe foi tramado pela classe empresarial do Brasil,
financiado com dinheiro dos EUA, organizado minuciosamente por lideranças
importantes, inclusive, da Igreja.
Não se pode culpar exclusivamente os militares – e esta
afirmação não serve para eximi-los da culpa, ao contrário – pela afronta à
democracia sem incluir nomes que até
hoje estão presentes na vida política nacional! E a imprensa, que acobertou os
reais interesses norteamericanos na ruptura dos direitos civis para sacar
benefícios econômicos e políticos.
Portanto, quando seres repugnantes afirmam que o momento
político pré-golpe era de “impossível solução”, ou que a “situação política
tinha deteriorado muito”, contribuem, apenas, para a manutenção da farsa que
entrou para a história como um golpe meramente militar!
MENTIRA!
As citações entre aspas acima são de um sujeito que viveu o
golpe, dizia-se de esquerda, atuou, ou diz ter atuado, na luta da
redemocratização dos anos 80: o infeliz chama-se Fernando Henrique Cardoso.

FHC, o hipócrita, teve a coragem de afirmar que “ninguém
sabia de onde viria o golpe”.
Sabia, sim. Ele pode negar que soubesse, talvez até não
tivesse, à época, estas informações. Mas hoje é impossível acreditar que a
esquerda – com Cuba, China e URSS – tivesse um plano em andamento para levar o
Brasil ao comunismo.

A prova foi a reação descoordenada que a resistência opôs ao
golpe, sem organização, recursos, efetivo paramilitar e, até, liderança.
Somente após 68 é que a militância comunista, finalmente, se organizou. E
perdeu.
Desta forma, quando se fala dos 50 anos do golpe no Brasil é
preciso incluir na lista de criminosos todos aqueles que dele participaram:
militares, empresários, políticos, jornalistas, igreja, lideranças organizadas
da sociedade civil: todos são igualmente responsáveis pelas torturas e mortes
que se sucederam à ação ilegal por eles patrocinada.
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