13 de mai. de 2014

AS CÓLICAS DE JOAQUIM

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A dor forte fez o pesado corpo arquear; a musculatura da face contraiu-lhe as feições e a expressão tornou-se ainda mais rude.

Como se possuísse um útero, uma hystera, sentiu que ia parir. Correu para a cozinha de seu apartamento funcional. Bebeu, da torneira da pia, goles de água com gosto de cloro; ergueu a cabeça para o alto querendo facilitar a passagem da água pela traqueia.

Parir pela boca? Não! Engoliu saliva repetidas vezes pensando unicamente em controlar a dor até, finalmente, acalmar suas entranhas. O esforço cansou-lhe as pernas mas conseguiu arrastar-se até a sala; sentou-se à poltrona diante da enorme janela que dava para o pátio onde, em sonhos recorrentes, via a multidão aclamá-lo como Rei!

Adormeceu. Era tarde da noite e o silêncio o dominou. Tanto gostava daquele sonho que esperava poder repeti-lo. O povo em êxtase a gritar-lhe o nome ... costumava acordar mais feliz, leve; dava-lhe ânimo para voltar ao trabalho e seguir adiante em sua missão que considerava nobre.

Mas naquela noite não sonhou. A ebulição em seu abdômen disforme recomeçou enquanto roncava; o gosto amargo na boca, a falta de ar e o suor que escorreu por seu pescoço fizeram-no despertar. As cólicas, agora, eram ainda mais fortes. Aquilo que lhe servia de útero pulsava freneticamente no ritmo de seu coração: vou explodir, pensou!

Ao tentar levantar e correr, escorregou. Os braços quiseram apoiar o peso de seu corpo mas, sem resistência, cederam e sua cara bateu forte no carpete de 10 milímetros na cor marfim. Perdia o controle, começava a expulsar o ser que ele aprisionara com tanto esforço, com tanto senso de dever cumprido, como em resposta à multidão de seus sonhos.

Por impulso, a boca abriu-se e um líquido quente e viscoso começava a ser expelido. Preciso engolir, preciso engolir, pensou, mas não havia mais o que pudesse conter sua presa.
Então ele pariu manchando de líquidos e sangue o carpete. Sua garganta parecia rasgar, a dor intensa o fez desfalecer durante o parto, perdeu os sentidos por não mais que dois minutos, a tempo de ver José Dirceu estatelado no chão sujo, nú, olhos arregalados de terror.

Recobrou as forças rapidamente. De um salto, ergueu o corpo do chão e, sem pensar duas vezes, tomou a criatura imunda em suas mãos e abriu a boca para voltar a engolir seu monstro. Teve dificuldade, é certo, mas era a única coisa a fazer no momento. Ainda estava quente e viscoso. Engoliu e aprisionou novamente em suas entranhas aquela aberração que só ele era capaz de dominar e prender.

Amanheceu e ele, depois de limpar o chão da sala e mesmo com o incômodo que sentia, foi trabalhar. Tinha esperança de que aquilo nunca mais voltasse a acontecer.


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3 de mai. de 2014

CONSEQUÊNCIAS ÓBVIAS DO RETROCESSO.



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Se a corrida ao Planalto começou – e começou mesmo! – as correntes de oposição passam a enviar recados cada vez mais claros à sociedade e ao mercado. À sociedade, visando apoio eleitoral na urna; aos mercados, buscando financiamento para as campanhas.

O MENINO DO RIO, por exemplo, já disse que deverá tomar “medidas impopulares” se vencer. Seu guru financeiro Arminio Fraga emitiu alguns sinais de quais poderão ser estas medidas: controle do gasto público e contenção dos salários.

Já o BONITÃO DO AGRESTE, que vem colado na popularidade da FADA DA FLORESTA, sem ter onde amarrar seu jegue, disse através da boca de seu auxiliar Eduardo Gianetti da Fonseca que seu programa de governo não trará diferença relevante em relação ao programa tucano. Portanto, o mesmo método será usado para formular a política de governo se os socialistas vencerem.

O discurso de ambos deixa clara a mudança no rumo da economia caso Dilma não seja reeleita. Ou seja, a volta ao passado, o retrocesso aos tempos do FMI, dos altos juros, do alto desemprego e, principalmente, da concentração de renda.

Na essência, trata-se de um modelo esgotado. A crise mundial de 2008, que se arrasta até hoje, exigiu maior interferência do Estado na economia, exatamente como foi feito nos governos Lula e Dilma. Investimento público para geração de emprego e renda. Não é por outra razão que somos um dos países com maior empregabilidade e distribuição de renda.

Aliás, a tal distribuição de renda, motor da redução da desigualdade social, é responsável pela baixa suscetibilidade aos danos causados pela crise mundial. Enquanto países da Europa e mesmo os EUA empobrecem, China, India Brasil, Russia e África do Sul sentem pouco as turbulências no quesito bem estar social.

Mas, qual a razão dos candidatos da oposição irem buscar esta fórmula tão perversa para a população?
Simples. Ao frear os salários, aumentar a taxa de juros, reduzir drasticamente o investimento do Estado e sua influência na economia, diminuem o PIB mas mantém o instrumento base da concentração de renda: o monstro chamado SUPERÁVIT PRIMÁRIO.

O que nada mais é que economizar um determinado valor para pagar os juros da rolagem da dívida, e deixar por conta dos agentes do mercado os rumos da economia. Todos nós sabemos que o mercado sempre se protege, reajusta preços, faz cartel, suborna, atua como proprietário das leis que jura proteger, mas manipula. O mercado é o grande responsável pelo empobrecimento da Europa e dos EUA, que joga com o capital especulativo em detrimento das famílias que reduzem, a cada dia, seu padrão de vida.

A classe média norteamericana já está mais pobre que a classe média europeia, e este círculo vicioso leva ao caos social. Desemprego e sofrimento.

Em 2002 Lula foi eleito para implementar programas sociais de apoio às famílias. Dilma os ampliou. Trouxemos para o consumo milhões de pessoas que hoje ascenderam de classe e são justamente estas pessoas que movem a economia atual.

Se o modelo do retrocesso vencer, as consequências são absolutamente desastrosas e previsíveis. Basta ver o que aconteceu no Primeiro Mundo quando o Estado se retirou da vida das pessoas.

Para aqueles que estão do lado do Estado Mínimo, recomendo estudarem as medidas que os governos dos países desenvolvidos adotaram para tentar superar a crise. Interferência direta na economia injetando bilhões, até trilhões, de dólares para tentar frear o descontrole. Aumento de gasto e endividamento público.

Se é para concentrar renda, o caminho é votar na oposição.

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