6 de ago. de 2011

Quem vai juntar os cacos do velho mundo?

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Ouso misturar na mesma panela a velha Europa e os Estados Unidos, e chamá-los de velho mundo.

A maior crise econômica da história, ocorrida entre 2008-2009, deixou um recado importante, aparentemente ignorado pelos manda-chuvas do capitalismo ocidental: É PRECISO MUDAR!

Hoje, no meio de 2011, o velho mundo está em vias de desabar. Não apenas economica, mas socialmente. Justo eles, os vencedores da batalha Capital X Trabalho, não notaram que o modelo escolhido já acabou. Nações chamadas de desenvolvidas estão em pedaços e tudo leva a crer que não há ninguém capaz de – ou pelo menos, disposto a – juntar os cacos.

O Presidente da maior Nação capitalista do planeta, Barack Obama, pegou um abacaxi e não sabe como descascá-lo. Vai engolir. Disse, ontem, que a culpa é do povo americano que escolheu repartir o poder entre o Presidente e o Congresso. Mentira! Todos os norteamericanos optaram por este sistema econômico maligno que privilegia o Capital, não o controla e espera que ele seja o remédio de todos os males. Está se mostrando venenoso.

Sobretudo na questão social, os EUA patinam. Pisam forte no freio dos benefícios para fazer “caixa” e quitar sua dívida monstruosa. Nunca será paga, nem com o dinheiro do povão dos EUA, que é quem mais pode sofrer as consequências desta crise quase insolucionável. Já se fartaram demais dos outros.

Está tudo no manual do ocidente: deixe o mercado resolver e vá dormir!

Na Europa, o trabalhismo inglês caiu. Também o socialismo português e, na Espanha, é questão de tempo. O conservadorismo francês e italiano, idem. Grécia e Bélgica, ora, se a bomba explodir no colo de suas lideranças politicas ninguém vai perceber.

A questão, hoje, não se limita a adotar uma tendência desta ou daquela cor. Pelo menos no velho mundo. As raízes do capitalismo liberal estão fortes o bastante para anestesiar qualquer desejo de mudança, ou melhor, tratou de misturar todos os velhos desejos e pintá-los da mesma cor; é possivel que um europeu classe média nem saiba mais quem é quem. O norteamericano, nunca soube.

Alemanha e Japão (trago o país do sol nascente para o recheio do mesmo bolo por ser uma potência econômica, apesar de oriental), aparentemente, são os que menos problemas enfrentam entre os grandes. Maiores perdedores da Segunda Guerra Mundial, foram levados a adotar a cartilha dos vencedores; não puderam optar, mas desenvolveram sistemas de controle estatal muito mais rígidos que seus mestres e, talvez como fator determinante, não se envolveram em batalhas militares ou despendem fortunas em projetos bélicos.
Moedas consideradas fortes até ontem, dolar, euro e iene, tornaram-se obsoletas. O velho mundo olha hoje, com muito mais atenção, para Brasil, India e China, antes ignorados. Nos vêem como estranhos e exóticos, mas com capacidade de lidar com os obstáculos que eles, o velho mundo, construiram. Já há os que falam em mudar a moeda para transações internacionais. A China é o maior credor dos EUA e sua moeda chama-se Yuan ...


A lógica irresponsável que colocou o mercado mundial nesta situação é a de fazer girar a roda. 

Aparentemente, tarefa simples, desde que a velocidade seja prudente. A rolagem das dívidas dos países ricos tem sido extremamente desastrosa. Seus títulos, ancorados nas suas moedas, perdem valor a cada abertura de pregão. Quem compra bônus do Tesouro acredita que não há risco em seu investimento mas, diante do caos criado pelo velho mundo, está na iminência de perder tudo.

Aliás, esta é uma das regras básicas do capitalismo: arriscar para ganhar. Mas quando perde, o dono da bola vai embora, acaba a brincadeira e todos choram.

Entre nós, brasileiros, marginais da economia mundial, não é bem assim que acontece.

Apesar das regras serem as mesmas, historicamente temos sido pouco livres no campo econômico. As potências industrializadas abusaram de explorar nossos mercados, via de regra suportando os donos do poder politico através de financiamentos externos e gorjetas polpudas. Investimento produtivo que é bom, nada. Para manter a farra, criaram-se ferramentas capazes de dirigir a economia para onde a vontade de um chefe de Estado quisesse (caderneta de poupança, cheque pré, compra parcelada, sistema tributário complicado, Judiciário lento, PIS/PASEP, vale transporte, entre outros).

Controle bancário rígido, controle de financiamento público e privado, aumento da dívida externa mas não da interna (para pagar juros para os ricos ...), baixissimo investimento social e consequente controle eleitoral da grande massa, via midia. No Brasil, sempre foi assim. Em todos os governos militares, com Collor, Itamar e FHC, o nefasto.

Até surgir um verdadeiro governo que se preocupa com a sociedade. Do Partido dos Trabalhadores.
Queira ou não, a direita nunca foi capaz de fazer um quarto do que Lula fez em oito anos de mandato. Ou nunca quis. Ou acreditava que o mundo seria sempre dos cheirosos.

Sem romper contratos, sem burlar as regras do capitalismo, afinal, não é isso que o brasileiro quer, a economia tupiniquim tomou um rumo diverso; fez a roda rodar. Calmamente e no prumo.

Um dos principios básicos da politica econômica do PT foi a geração e armazenamento de divisas. Mataram dois coelhos; financiando empresas nacionais com dinheiro público para produzir, gerar emprego e renda, e exportar.

Ah, mas hoje o Brasil é um exportador de Commodities, dizem os jornalões. É, sim. E o velho mundo exporta o quê? Nada! Porquê? A China, meus caros, é o maior polo industrial do planeta, capaz de produzir qualquer coisa a qualquer preço!

Mas isso não vale, dizem uns jornalistazinhos.

Como não? Isto é capitalismo puro na veia! Oferta e procura, regra número 1.

Outro fator determinante para nosso relativo sucesso, que provoca inveja ao velho mundo, é que nossa dívida interna também cresce, mas de uma forma positiva. É certo que se pagam juros altos aos banqueiros nacionais, mas seu crescimento está associado à melhora das condições sociais em geral. Via Banco do Brasil e BNDES, o governo empresta para gerar produção, emprego e renda. Como consequência, aumenta o consumo, retira as pessoas da pobreza, e as indústrias e os serviços agradecem.

O círculo virtuoso em que se meteram Brasil, India e China, onde o crescimento de um está atrelado ao do outro sem a necessidade de se ajoelhar aos velhos do velho mundo, serve de exemplo. Além de quê, é óbvio, temos capacidade gerencial, matéria prima, recursos naturais e gente ... muita gente para trabalhar!

Nosso desafio é “administrar o sucesso”, como disse o Financial Times.

Disse ainda: “... esforçado mercado emergente, o Brasil é hoje uma imagem de estabilidade macroeconômica e politica comparada com o seu antes subjugador parceiro do Norte e as antigas potências coloniais da Europa”.

Subjugador. Potências coloniais.
Era isso que eu deveria ter escrito desde o início!
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