11 de abr. de 2009

UM REFÉM NA ENCRUZILHADA

***


Li o texto do AZENHA, no Vi o Mundo, e comecei a refletir a respeito à partir de uma visão honesta do momento brasileiro.

O primeiro parágrafo diz:

“O presidente Lula é o grande conciliador. O governo que ele lidera é um sindicato que inclui da elite mais conservadora e retrógrada do Brasil aos movimentos sociais. O Congresso é aquilo tudo que vocês estão acostumados a ver. A Justiça está sob o "comando" de Gilmar Mendes, que emprega outros juizes do STF na escola da qual é proprietário, num caso crasso de impropriedade ética. Esse é o Brasil real. Um país dominado por alguns grandes grupos econômicos, que expressam seu poder através da mídia corporativa em consórcio com parlamentares "de aluguel".”

Perfeito.

Pouco mais à frente, Azenha continua:

“(...) logo depois de ser reeleito o presidente Lula cometeu um erro crucial. Ele tinha capital político para aprofundar a democracia brasileira, não apenas incorporando milhões de cidadãos ao mercado de consumo, mas também à efetiva vida política. Como? Promovendo, por exemplo, a disseminação da internet em banda larga. Deixando de criminalizar as rádios comunitárias. Promovendo as tevês públicas. Estimulando a reforma no sistema de concessões.”

Então, a matéria aponta o erro do acomodamento do PT e de ter criado o Lulismo de resultados. E é aí que meu ponto de vista passa a ser diferente.

O primeiro presidente-operário do Brasil foi eleito, e reeleito, sob os mesmos vícios da democracia latinoamericana, ou seja, aquela em que todo o poder está nas mãos do executivo mas depende do legislativo e do judiciário para implementar sua política de governo.

É notório o interesse individual do Congresso brasileiro; parlamentares legislam para a minoria branca (de olhos azuis) e rica do Brasil, da qual eles mesmos fazem parte. Sem generalizações, a cara do Congresso Nacional é bastante diferente da cara do povo.

Não bastasse isso, o poder Judiciário, que não é eleito, apóia as ações da mesma elite que influi no destino do país.

Para piorar, boa parte da mídia revelou-se comprometida até o pescoço, na esperança de reconduzir “sua gente” ao poder.

O Presidente da República é refém deste sistema nocivo. Porisso discordo do Azenha. Pouco pode ser feito nos moldes atuais, onde o processo eleitoral privilegia as campanhas mais caras, onde o horário eleitoral gratuito é um espetáculo de marketing televisivo, onde a “maquiagem” dos candidatos esconde a verdadeira face do proponente.

Luiz Carlos Azenha levanta um assunto muito importante. O debate sobre a crise, e quem perde mais. Nem Lula nem o PT parecem ter se dado conta que o mundo será outro daqui por diante. E que a ordem internacional será arranjada de modo diverso, obrigatoriamente.

É provável que as energias do executivo estejam voltadas para assuntos pontuais, como o desemprego e a arrecadação, por exemplo, e as eleições presidenciais de 2010 estão batendo à porta. Mas o momento de incluir na agenda o debate sobre a crise poderá passar, e um novo Congresso irá assumir em 2011, e o(a) próximo(a) Presidente(a) continuará refém se nada mudar.

Luis Inácio está na encruzilhada. Tornou-se popular perante a opinião pública por seu carisma pessoal e pelas ações diretas em benefício das camadas mais pobres da sociedade. Sustentou a economia à base do crescimento interno – grande parte pela ascenção das classes mais baixas ao mercado consumidor – e das propostas para geração de emprego e renda; elevou o salário mínimo a patamares bem acima da inflação, incentivou o agronegócio, as exportações e a produção industrial de maneira geral. Colocou-se na posição de porta-voz dos países emergentes e fez respeitar o povo brasileiro no mundo.

Isso não é pouco, principalmente ao se levar em conta a desconfiança, das elites sobre o PT, de antes da primeira eleição de Lula. Mas chegou a hora de querermos mais.

É fundamental que o Partido dos Trabalhadores, que não é mais o mesmo depois de ter sido alçado ao poder máximo da República, tome a frente na discussão do modelo de democracia que queremos. A crise é o caminho para o início do debate, e dela devem ser tomadas lições. Se insistirmos num Congresso fisiológico, corrupto e de interesses inconfessáveis, é possível que o projeto de desenvolvimento do Brasil sofra um retrocesso. O bom funcionamento do poder Legislativo é condição essencial para que o Brasil dê certo.

O último parágrafo do Azenha é muito esclarecedor:

“O presidente Lula precisa de toda ousadia e coragem política que acumulou nos últimos sete anos. Ele pode tentar o caminho à esquerda ou à direita. Ficar parado tentando agradar a todos é que não pode.”

Lula, ainda que refém, conseguiu escapar das armadilhas da direita. Mas, e o próximo (trabalharei para que seja Dilma Rousseff), terá o mesmo carisma e poder de Luis Inácio?

***

Um comentário:

La Pasionaria disse...

As conquistas do governo Lula são irrersíveis. Seja quem for o próximo presidente, terá que rebolar muito para retirar do povo sofrido deste país o que foi conseguido neste governo. Quanto ao Legislativo, realmente precisamos eleger gente comprometida com as cusas populares, mas não tenho muita esperança, pois o povo ainda não conseguiu chegar a conciência necessa´ria para se dar conta da importância do Legislativo. O Judiciáro, está deixando aparacer sua verdadeira face e, até o final do mandato de Lula muita "coisa" ainda vai boiar. Quanto a tomada de posição de Lula, concordo com Azenha, também espero que Lula encerre seu mandato com um feito inesquecível que surpreenda a todos nós, espero que a guinada seja à esquerda. Sinceramente espero. O PT tem muito trabalho pela frente, tem que começar a se mobilizar, ontem, para fazer com que o Congrsso Nacional seja renovado e que se extirpe todos os "picaretas" detectados por Lula quando foi parlamentar.
Não fico angustiada não, fico é com mais ganas de trabalhar muito para que este país continue no rumo certo com Dila presidente e parlamentares dignos de seus mandatos.