
A reação dos militares foi imediata. Decretaram toque de recolher, e atacaram os mais de 4.000 manifestantes que atenderam ao apelo do presidente de fato. Soldados do exército - muitos com o rosto coberto por gorros - dispersaram a multidão com gás lacrimogêneo. Veja foto ao lado.
O presidente Zelaya, até este momento, encontra-se na embaixada, e busca um canal de diálogo com os golpistas, que cortaram a água e a energia elétrica do edifício onde funciona a embaixada brasileira.
A VERSÃO.
A imprensa brasileira está tratando o caso como se o Brasil estivesse interferindo na política daquele país.
Nos jornais da noite de ontem, principalmente na Globo, disseram que o apoio a Zelaya representa uma intromissão na soberania de Honduras. Trataram o assunto como um erro da diplomacia brasileira, e tentam qualificar Zelaya como um fora-da-lei que, ao descumprir a Constituição de seu país, pretendia se perpetuar no poder.
Entretanto, o Brasil não colaborou para o retorno de Zelaya a seu país, nem ofereceu qualquer tipo de ajuda logística para que ele voltasse a Tegucigalpa.
OS FATOS.
Manuel Zelaya, eleito democraticamente, enviou ao Congresso Nacional de Honduras projeto de plebiscito para tentar se reeleger no cargo de Presidente da República. A direita - e os militares - eram contra, pois sabiam que o povo hondurenho estava satisfeito com o rumo da política local.
Derrubaram Zelaya e assumiu, inteirinamente, Roberto Micheletti, em nome e com a garantia dos militares. Zelaya fugiu do país para não ser morto e, do exílio, mobilizou os Estados Unidos e vários outros países da América Latina na tentativa de negociar com os golpistas. Nada foi conseguido, até ele decidir voltar clandestinamente a Honduras e buscou auxilio do Brasil tão logo entrou no país.
O Chanceler Celso Amorim diz que a Zelaya fez contato com a embaixada brasileira quando já estava em solo hondurenho; o Brasil o aceitou por motivos humanitários e, também, porque Zelaya é presidente legítimo de Honduras, disse Amorim.
Qual a razão de Manuel Zelaya ter escolhido o Brasil para se asilar na embaixada?
Esta é a pergunta que a midia não fez. E não poderia. Para criticar - mais uma vez sem fundamento - o governo brasileiro, deveriam entender as razões que levaram Zelaya a optar pelo Brasil e não, por exemplo, pelos Estados Unidos.
O respeito que o governo brasileiro conquistou nos últimos anos é que dá ao presidente deposto a garantia de que começarão as negociações. Ele disse, desde a embaixada, que acredita que Micheletti e os militares busquem uma solução para o povo. E que o governo brasileiro é um exemplo de democracia.
O presidente Lula emitiu comunicado exigindo que se respeitem os acordos internacionais que protegem o território das embaixadas. Lula sempre defendeu, publicamente, o retorno de Zelaya ao cargo, propondo, inclusive, retaliações contra o governo golpista e anti democrático de Micheletti.
Esta posição do Brasil, expressa através de Lula, é que dá o tom da crise. O Brasil pede respeito às leis e à democracia. A imprensa brasileira deveria ter mais coragem, e assumir que a direita daquele país é vista com bons olhos. Mesmo quando tomam o poder por meios ilegais e à força.