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Primeiro, reclamei por causa do horário. Ele se desculpou mas, já que me acordou, engrenamos no assunto.
Disse a ele o que já sabemos há muito tempo, ele mais que ninguém, que os controladores da opinião na América Latina não admitem o sucesso de determinados governos. Ele riu alto! Resmunguei dizendo não ter entendido a piada. Chavez sugeriu, então, que eu lavasse o rosto e fosse tomar café para, em seguida, ligar de volta ... não era essa a resposta que ele queria ouvir de mim.
Neguei o pedido. Não vou gastar uma ligação internacional para a Venezuela e pedi, num tom chateado, para que explicasse o que queria saber.
Ao compreender o mal estar, foi direto ao ponto.
A imprensa nunca se preocupou com os assuntos do Mercosul. Desde sua criação, foram céticos; achavam que a ALCA era o melhor caminho para a integração dos hermanos do Hemisfério Sul. Quando nossos países se recusaram a fazer parte da sociedade com os EUA aí então é que a midia virou as costas para tudo o que se relacionava ao nosso Tratado de Livre Comércio. Por que então, agora, voltam a falar de algo que sempre fizeram questão de ignorar?
Não soube responder.
Ele continuou:
Se estavam felizes com o bloqueio à entrada da Venezuela no Mercosul por achar que o país não respeita as regras da democracia, deveriam, pelo menos, noticiar com mais vigor o rompimento da democracia no Paraguay. Mas fazem exatamente o oposto: defendem o ataque contra o Presidente deposto Fernando Lugo e escondem o ato golpista que o retirou do poder. E escrevem contra a Venezuela mais uma vez.
Num desabafo, Hugo Chavez ainda me lembrou de todos os plebiscitos que organizou e de todas as eleições que venceu. Fez questão de me dizer que os observadores norteamericanos sempre acompanharam os pleitos e que, caso houvesse qualquer indício de fraude, eles o denunciariam.
Quase gritando, relembrou do golpe que a direita venezuelana preparou contra ele; foi deposto mas voltou ao poder nos braços do povo ... ele fica bastante chateado quando toca neste assunto.
Se eles dizem entender de democracia - e fazem até a guerra por ela - deveriam condenar o golpe contra Lugo, encerrou.
Tem razão, concordei. A imprensa oposicionista de nossos países - e da Argentina, Equador e Bolivia - não tem argumentos. Amparam-se na Constituição do Paraguay para justificar o golpe e ignoram as leis da Venezuela que admitem a eleição continuada de seu lider.
A democracia não é um boneco nas mãos imundas da velha imprensa para ser manipulada assim, disse Hugo Chavez antes de me desejar um bom dia e desligar o telefone.
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