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O que tinha que ser feito, Lula fez ao apontar o rumo que o
Brasil precisava.
E como precisava ... durante séculos as gentes foram jogadas
nas periferias, amontoadas em “condomínios BNH”, quilômetros de distância do
local de trabalho, perdendo duas, três, quatro horas só de deslocamento para ir
servir os patrões em ônibus abarrotados de outros, igualmente, pobres. Quando
tinham emprego, é claro.
Nós não éramos os degenerados, por mais que nos quisessem fazer
crer. Os degenerados eram os que mandavam no país, pela força do capital e da
influência política. Os amigos do Rei. O Rei, era Tio Sam.
Qualquer livro de História do Brasil comprova que eram sempre
os mesmos donos, os ricos, brancos e limpos (e cheirosos). Nós, negros e sujos.
(Preciso confessar que sempre fui classe média, branco e limpo,
até descobrir ser negro e sujo! Isso lá pelos anos 70. Mas não vem ao caso).
De repente, de um galpão de metalúrgica surgiu um
torneiro-mecânico sem dedo e sem estudo, negro e sujo: o diabo é
que ele falava bem, apesar dos erros de português; pegava o microfone e, de
cima do caminhão de som, começava a dizer coisas com aquela voz rouca, olhava
nos olhos, chegava bem dentro de nós com as palavras incultas que dizia! Cara
bom ... o Luis.
Nós o elegemos Presidente da República, para aterrorizar os
brancos e limpos! Eles, os de sempre, acharam que nunca daria certo, que o cara
faria uma merda sobre a outra ... deixaram! E se arrependeram ainda em 2005.
Mas tinham o plano da desmoralização: colar nas costas de Luis o cartaz:
CORRUPTO. E pronto. Voltaria tudo ao normal.
A mídia, velha e com os mesmos leitores de sempre, se engajou
até o pescoço na tarefa de derrotar Luis e todos nós. Tanto, que a oposição
sentou em cima do escândalo chamado “mensalão”. Acharam que era assim que se
faziam as coisas.
Esqueceram de nós. Negros e sujos passaram a ter acesso ao
supermercado; filhos, à escola e, até, Universidade. Compramos carro financiado
em trocentos e dez meses, mas era nosso carro, da cor que sempre sonhamos.
Comprei yogurte e viajei pro nordeste, de férias. Primeira vez na vida que
tomei um avião ... me caguei de medo mas fui. Vi na fila do embarque tantos
outros negros e sujos como eu que me senti aliviado. Se eu morrer, dane-se!
O grupo de poder que se instalou em 1500 viu-se constrangido
de ter que dividir seu espaço. Culpa do apedeuta, que não conseguiram derrubar.
E que se reelegeu. E que elegeu seu poste. E que seu poste se reelegerá!
O que passa pela cabeça dessas lideranças coronelistas demo-tucanas
que esqueceu da massa? A mesma massa que aprova Luis, dois
anos depois do fim do mandato, em mais de 85% ... Como é que alguém que foi
incluído no mercado de trabalho aceita, quieto, a “desinclusão”??? Somos todos
ignorantes, sem dedo, negros e sujos!
Eu não sou negro e
sujo. Sou mais. Sou fedido!
Sou a mulher com o rosto roxo de tanto apanhar
que vai prestar queixa na delegacia da mulher; o cara que sai com uma LCD nas
costas das Casas Bahia e subo no telhado prá ajeitar a antena. Sou quem vai
colocar insufilm no carro zero;
sou PETRALHA e tenho um orgulho danado de ter
sido rotulado assim!
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Editorial da folha* de hoje pede mais iniciativa privada e
quer que o BNDES não escolha mais os setores ou empresa que vai subsidiar.
Chegou a hora de avançar com incentivo ao mercado de capitais.
Traduzindo: pô, vou ficar sem? Esqueçam o
bolsa-familia e o empréstimo à microempresa a juros baixos! Prá quê criar
empregos, prá ter que dividir poltrona de avião e ruas engarrafadas comigo? Chega!
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O que o STF está promovendo, no curso do julgamento do “mensalão”
nada mais é que a resposta que parcela da sociedade, os mesmos, nos dão depois
de terem engolido o crescimento com distribuição de renda: o retrocesso
político!
Mas não pensaram na nossa astúcia como, aliás, não pensaram antes: não nos deixaremos enganar e vamos resistir.
AGORA, PETRALHAS, É CONOSCO!
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Deixo um agradecimento especial ao meu amigo Antonio Borges, negro e sujo, por ter me aberto os olhos!
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* Este blogueiro recusa-se a grafar os nomes dos jornais
folha, globo e estadão, e da revista veja, com as inicias maiúsculas.
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